Muita gente que conheço (e que anda lendo as coisas que escrevo por aqui) vem me abordando com uma questão bem recorrente: Rita, não sabia que você era sempre assim, tão “zen”!
Primeiro pensamento que ocorre: epa, epa, epa… Vamos com calma! Não sou sempre assim, não.
Na verdade, eu venho aprendendo a ser resiliente… E a resiliência tem dessas, uma vez que ela é a capacidade de você lidar com as ADVERSIDADES de modo a aprender com elas e seguir em paz. Se existem adversidades, existem problemas e, por consequência, existe nossa postura diante deles. Hoje em dia tento, sim, ser o mais pacífica possível diante de qualquer coisa que possa me afetar de maneira negativa, mas não, não foi sempre assim.
Eu sempre fui uma pessoa super reativa, do tipo que gritava e esbravejava ao mínimo sinal de contrariedade. E reclamava… Reclamava… Reclamava MUITO! E percebi que com a minha postura, a vida era uma eterna “guinada de 360º”. Veja bem, não disse 190º… 360º mesmo, que é quando você sai de um ponto da vida, sofre uma virada brusca que te resolve muita coisa que estava fora do lugar, você tem mil experiências novas, três mil mudanças, daí você perde o rebolado com tanta coisa, se atrapalha ao lidar com tanta novidade e… Volta para o mesmo ponto de onde partiu. “Droga! Eu estou estagnada… A vida nunca caminha!”. E reage… E reclama… E muda… E volta ao começo. Uma valsa chata, densa e que parece não ter fim.
Sabe… Uma hora isso cansa. E depois de uma certa idade, juro que dá preguiça de ficar nessa eterna briga contra o nada. E é então que você toma um tapa na cara da consciência: o problema é a vida que é sempre igual, ou eu quem faço tudo do mesmo jeito? Bingo! Primeiro desafio: fugir do pensamento de que “a culpa é minha”. Não é uma questão de culpa, é uma questão exata e matemática de responsabilidade e consequência.
Como sou “a chata” das dialéticas, certa vez comecei a refletir sobre a palavra “reclamar”. Re = radical de repetição. Clamar = pedir, solicitar. Peraí… Se nós somos (e recebemos) o que falamos, então, quando eu RE-CLAMO, eu estaria pedindo mais daquilo que digo? Faz sentido! E se ao pedir mais do que estou dizendo eu acabo me vendo sempre diante da mesma situação, logo, estou recebendo minha encomenda direitinho. Bazinga! E não é filosofia piegas de porta de banheiro, não. É só observar: muitas pessoas comentaram nos meus posts anteriores que meu texto as “tocou” de alguma forma. Quando você lê uma palavra que conversa com seu interior, não é assim que você se sente? Tocada(o)? Eis a força que o que dizemos tem. E sim, você pode acariciar ou agredir pessoas dependendo da intenção que colocar em suas palavras. E se pode afetar ao outro, também pode afetar a si e isso é basicamente o que fazemos quando reclamamos.
Lembro até hoje que, quando estava nessa vibe de “descobrir a força do que digo e diminuir a reclamação”, aderi a um desafio (que inclusive propus à Maraisa) de passar “X” tempo sem reclamar de nada. Comecei com metade de um dia… Depois, 24hrs. Dava uma pausa (pra reclamar), fazia mais um dia de treino… E assim fui por algum tempo. Comecei a aumentar naturalmente a meta: 48 horas… 60 horas… UMA SEMANA, SERÁ? Hum… Difícil. Sim, é difícil demais, já que algumas coisas na vida exigem de nós uma paciência fora do comum. E tudo bem… Não sou uma monja e, se olhar pra trás e analisar quem eu era e como reagia a tudo, creio que já caminhei bastante para chegar nesse início de insight sobre a reclamação e meu eterno ciclo de “nervosinha” que me levava do nada a lugar nenhum. É um começo, não é mesmo?
O importante é pensar na naturalidade nas ações que essas conclusões pedem. Não vale ser forçado, não vale ser encenado: tem que ser natural! Sem pressão, sem cobrança… É apenas um “click” que te diz “opa! Isso aqui está me fazendo mal e partiu de mim mesma. Como posso fazer de outro jeito para sentir-me melhor e ter um resultado mais legal?”. E passo a passo caminhar mais leve. É aos poucos, com gestos sutis e, quando vemos, estamos quase habituadas a fazer da reclamação apenas uma brincadeira infantil (e não uma arma carregada, pronta para disparar a qualquer momento). Sim, porque pacificar, perdoar e bendizer é uma dádiva… Mas mandar à merda, às vezes, é inevitável e evita infartos hihihihi….
Que tal se propôr um desafio desse tipo? Topa? Então nem precisa esperar o dia seguinte: comece agora a pensar se o motivo da tua reclamação está te aprisionando em um ciclo vicioso sem fim. E se esse motivo sumisse? Morresse? Acabasse? Desligasse? Findasse? Você seria mais feliz? Reflita e, independente da resposta, guarde-a para si e alegre-se com a paz que esse simples exercício pode proporcionar.
Namaste!
Rita Lima